Introdução
Frequentemente ouvimos falar que vivemos numa era de vigorosa e exponencial revolução tecnologia. Quase diariamente nos chegam ecos de novos impulsos tecnológicos provocados pelas novas tecnologias ou de revolucionários processos de fabrico. Toda esta cadência obriga-nos a um constante e exaustivo acompanhamento. Sem esse acompanhamento efetivo, perdemos o pé, deixamos de ter clarividência e capacidade de prever o futuro e colocamo-nos nas mãos do destino. É claro que a vida não é só trabalho, mas alguém que se queira afirmar de forma decisiva numa determinada área técnica tem que forçosamente, durante um período de 2 a 3 anos, fazer um enorme esforço para se dotar das ferramentas necessárias para atingir um patamar excelência. Após esse período, o esforço vai-se reduzir drasticamente, sendo somente exigido que se acompanhe a evolução de forma cuidada. Definitivamente não chega saber um pouco de qualquer coisa, temos que procurar ser os melhores em algo, e todos nós, mesmo todos, podemos almejar esse desiderato. Não chega dizer que somos bons a fazer qualquer coisa, temos que saber ler os sinais que nos indicam se realmente somos ou não muito competentes nas tarefas que desempenhamos. Normalmente, pecamos por achar que somos sempre muito eficientes no desempenho das nossas tarefas, somos muito generosos na análise à qualidade do nosso trabalho e quando encontramos algum defeito arranjamos logo uma desculpa para esse menor desempenho.
Desenvolvimento
As competências técnicas exigidas em qualquer área da metalomecânica são muito elevadas, com ligeiras excepções ligadas a tarefas automáticas e muito repetitivas. Independentemente da área somos muitas vezes chamados a desempenhar tarefas que muitas vezes superam as nossas valências e competências técnicas para as realizar. Na ausência de uma formação superior ajustada ao mercado de trabalho, nomeadamente os cursos de engenharia, são os técnicos oriundos da formação profissional que têm muitas vezes que desempenhar a dupla tarefa técnica e científica associada a qualquer uma das atividades. Nos conhecimentos e aptidões de muitos técnicos encontramos normalmente lacunas no cálculo matemático, disciplina madrasta de muitos portugueses, conhecimentos sobre materiais, processos de fabrico, programação e de forma mais camuflada uma ausência de um raciocino lógico suficientemente desenvolvido e sobretudo uma falta de gosto por uma procura incessante por novos conhecimentos. O nosso problema atual resume-se principalmente a uma questão, baixa produtividade, não podemos continuar a ter tarefas de 5 minutos a demorarem 3 dias a serem executadas. Num espaço de 3 dias cabem 288 períodos de 5 minutos, esse valor multiplicado pelo vencimento individual dá algo gigantesco. Precisamos como País de vencer este flagelo que nos atormenta faz muito tempo. A baixa produtividade tem causas, que normalmente se conjugam com a baixa qualificação dos profissionais. O reduzido investimento que se faz em novos conhecimentos é normalmente a raiz desse problema. Vivemos normalmente muito acomodados, não gostamos da competição, de correr riscos. Perder é uma palavra maldita para a maior parte das pessoas, mas não, perder significa que tentamos e esse esforço inevitavelmente mais tarde ou mais cedo vai ser compensado. Saber mais implica também algum sacrifício, que devemos ir um pouco além do nosso expediente normal de trabalho. Procurar de forma incessante o conhecimento deve fazer parte do nosso quotidiano, manter-se atualizado, estabelecer ligações e redes de contato com profissionais da mesma área. Não chega dizer como dizemos muitas vezes, “Ai adoro aquilo que faço”, temos que ir mais além e ser melhores naquilo que executamos. E claro que haverá sempre alguém melhor do que nós, mas se nos esforçarmos o suficiente chegamos lá.
Formação profissional
Os métodos de ensino aplicados na formação profissional também podem ter um papel mais ativo nesta incremento de competências. A formação e ensino em geral baseiam os seus métodos numa perspetiva muito homogénea e pouco individualizada. Não denotam particular atenção às dificuldades ou necessidades específicas de cada formando ou ao incremento de um desenvolvimento mais célere daqueles que evidenciam maior autonomia. A dinâmica da nossa formação está muito orientada para uma vertente expositiva e centrada no formador. O quadro, um projetor de vídeo e um computador fazem parte do ambiente da maior parte das formações, estando reservada ao formador a definição do ritmo de desenvolvimento da sessão de formação. Os formandos, esses, passam grande parte do tempo numa atitude mais ou menos passiva, ouvindo, colocando algumas questões, mas usualmente dentro de um registo de esforço muito reduzido.
Em contraste com estes métodos tradicionais de ensino, temos um setor da metalomecânica que tem sido fustigado com constantes revoluções tecnológicas. Nos últimos 20 a 30 anos, a eletrónica e a informática transformaram completamente um setor que vivia num ritmo lento. Qualquer profissional qualificado deste setor sabe seguramente mais de que o mesmo profissional há duas décadas. Então, como resolver este problema de dotar os nossos formandos com mais conhecimento em menos tempo? Recorrendo ao próprio formando, incutindo-lhe o gosto pela autoaprendizagem e a vontade de ir sempre mais além, procurando o seu próprio ritmo, onde cada indivíduo tem um lugar central no seu processo formativo. Para isso, precisamos de dotar o nosso sistema de formação profissional de recursos técnico-pedagógicos que facilitem e promovam um modelo autoformação.
O sucesso da formação não pode continuar a depender, quase exclusivamente, da qualidade do formador. A formação tem de ser, independentemente do formador, um produto de qualidade. Tal é possível com a disponibilidade de recursos técnico-pedagógicos mais proficientes e promotores do desenvolvimento autónomo de cada formando.
As áreas tecnológicas encontram-se numa evolução exponencial e, consequentemente, o conhecimento associado vai sempre aumentando, mas as unidades de formação de curta duração, que sobre ele versam, têm sempre a mesma carga horária, 25 ou 50 horas. Então, teremos que desenvolver novas estratégias, a fim de que o formando possa complementar a sua formação fora do espaço formativo, conferindo-lhe maior independência na construção e consolidação de aprendizagens. É urgente orientar a formação para percursos mais individualizados e, sobretudo, autónomos, libertando o formador para tarefas de acompanhamento mais especializado a formandos com maiores dificuldades ou com questões específicas.
Aos formandos e profissionais em geral solicita-se a assunção de uma maior responsabilidade no seu percurso formativo, emancipando-se como força motriz inerente ao seu desenvolvimento. Enquanto formandos ou profissionais não nos podemos colocar exclusivamente à mercê das circunstâncias do mercado de trabalho e das suas contínuas exigências. Temos de ser capazes dos nos antecipar aos acontecimentos, prever a evolução de cenários e, concomitantemente, investir proativamente na nossa formação, para respondermos prontamente aos reptos lançados: estou presente! Como formandos devemos abolir do nosso vocabulário expressões como “Não sei ” ou aquela frase passiva “Estou aqui para aprender ”.
Não, temos de ser capazes de fazer mais e melhor, de não desistir, de procurar sempre ir mais além. O saber não se pode limitar a conteúdos debitados por processos tradicionais, devemos munir-nos ativamente de conhecimentos e das melhores competências, escolhendo, assim, o caminho mais profícuo para o nosso desenvolvimento. Perante o contínuo e acelerado progresso tecnológico, o sucesso profissional só é concretizável se, como formandos, formos capazes de gerar grande parte dos nossos conhecimentos técnicos.
Conclusões
Como nos podemos converter em profissionais mais competentes? Conhecendo melhor, muito melhor, tudo aquilo que fazemos, não ficar satisfeito com o nosso rendimento, procurar sempre mais e melhor, não balizarmos a nossa produtividade em função daquilo que nós achamos que vale o nosso vencimento, procurar mais. Um profissional qualificado possui algo único, com um valor inestimável, a liberdade de escolher o seu caminho, o direito de escolher e de optar. O aumento das competências técnicas passa muitas vezes por prestar mais atenção aos detalhes, ser mais rigoroso na sua acção, não empurrar para sorte ou azar a nosso sucesso profissional. O azar ocorre normalmente quando não dominamos todos os parâmetros do nosso trabalho. Gostar de novos desafios é uma característica importante para a promoção de uma melhoria contínua, correr riscos, não ter um medo excessivo de perder e sobretudo ter capacidade de automotivação, não esperar dos outros a responsabilidade da nossa motivação.